segunda-feira, 21 de maio de 2012

Síndrome do Pânico

A Síndrome do Pânico é uma doença caracterizada pelo distúrbio dos neurotransmissores serotonina e noradrenalina,  possuindo  como aspecto essencial, os ataques de  ansiedade e  nervosismo. Os ataques de pânico manifestam-se, via de regra através de períodos discretos de ataques repentinos, de intensa apreensão e medo, freqüentemente associados com sentimentos de perigo de destruição  iminente. A doença atinge pessoas de qualquer classe social, de qualquer profissão, seja na área urbana ou rural. Em 70% dos casos, a doença começa a se manifestar entre os 20 e 35 anos uma fase de  pleno crescimento profissional.

Fatores Predisponentes 
Distúrbio de Ansiedade de separação na infância e a perda súbita de suportes sociais ou interrupção de relacionamentos inter pessoais importantes, aparentemente predispõem o desenvolvimento deste distúrbio. Pode-se citar como principais sintomas da doença os seguintes:
- falta de ar
- vertigem
- palpitações (taquicardia)
- tremor nos braços e/ou nas pernas
- sudorese
- sufocamento
- náusea ou desconforto abdominal
- despersonalização
- anestesia ou formigamento
- ondas de calor ou calafrios
- dor ou desconforto no peito
- medo de morrer
- medo de enlouquecer

A ocorrência simultânea de quatro  sintomas,  dentre  os acima discriminados, é suficiente para demonstrar a existência  da doença. É importante ressaltar, ainda, que há ataques de pânico recorrentes várias vezes por semana ou até diariamente e que estes ataques podem ou não ser acompanhados de agorafobia.

AGORAFOBIA:  Medo de estar em lugares  ou situações nas quais seja difícil sair, ou não haja ajuda disponível na hipótese da ocorrência de um ataque de pânico. Dentre as situações mais freqüentes de agorafobia, pode-se mencionar aquelas em que o indivíduo está sozinho e fora de casa, ou ainda,  numa multidão, em uma fila, em uma ponte, numa viagem de ônibus, trem ou automóvel, etc.


Diferença entre Fobia e Síndrome do Pânico 
FOBIA - Medo exagerado e desproporcional ao estímulo, não conseguindo avaliar a  realidade  da situação. Surgem pensamentos catastróficos e a pessoa sabe que o medo é exagerado, mas não consegue evitar a ansiedade, sendo que quando elimina o estímulo aterrorizante desaparecem os sintomas.

SÍNDROME DO PÂNICO -  Não  existe estímulo externo, sendo que surgem ataques de pânico independente do lugar e da hora. É um distúrbio de ansiedade, no qual  fundamenta-se  em  base orgânica e psicológica. Freud descreveu a Síndrome do Pânico como Neurose de Angústia em 1894, que apresenta traços de muita tensão e atividade mental associado aos sintomas somáticos como  tremores, taquicardia, hiperventilação e vertigens... Angústia é uma forma de esperar o perigo ou preparar-se para ele, ainda que possa ser desconhecido.

Caracterísitcas da Personalidade 
São pessoas com tendência ao perfeccionismo tendo uma autocrítica muito grande e não se permitindo falhar em nenhum aspecto.  Há uma cobrança extrema quanto a execução de atividades corretamente e de certa forma esperando a mesma atitude alheia.  Apresentam-se como workaholics com dificuldades para relaxar e centralizadores. Profissionalmente  possuem ótima capacidade intelectual, mas denotam dificuldade nos relacionamentos afetivos.

DURANTE AS CRISES: - No momento da  crise os pacientes tomam tranqüilizantes e, posteriormente, há uma melhora da crise. A crise desaparece por volta de 05 a 30 minutos, com ou sem os medicamentos.
- o tranqüilizante, tomado por via oral ou intramuscular  leva de 40 a 60 minutos para  surtir efeito, donde se conclui que, o efeito  do medicamento se dá no momento em que a crise já cessou.
- o tranqüilizante ajuda na fase pós crise, relaxando  o paciente  justamente no período de mais necessidade, já  que ele  fica ansioso, cansado e com medo de que a crise volte.
- o controle das crises pode ser obtido mais ou menos dentro de 02 a 04 semanas  com  uso de medicamentos.
- somente após o bloqueio das crises é que se deve estimular o paciente a enfrentar de forma progressiva as situações temidas.
- quando a pessoa estiver no meio de uma crise, inspire pelo nariz e conte até quatro depois expire pela boca e conte  novamente  até quatro. Repita esse movimento várias vezes até a sensação de tontura passar.
- pode ser feito um relaxamento autógeno ou qualquer outro tipo de relaxamento para que o paciente consiga um auto controle sobre o seu físico, pois após a crise há um desgaste emocional e físico muito grande.
- é importante desviar a concentração da  mente para situações agradáveis ou conversar com alguém para ajudar nesse processo.
- o familiar que estiver acompanhando o  tratamento deve  deixar o paciente sem tensão ou cobrança,  pois nesse  momento o  próprio paciente fica em desespero para que volte ao normal. O  ambiente  familiar deve ser propício para que isso aconteça.
- o paciente não precisa sentir vergonha dessa fragilidade, pois a maioria das pessoas sentem as mesmas aflições.

Complicações da Síndrome do Pânico 
Com a repetição das crises podem surgir algumas complicações  tais como: hipocondria; fobias associadas direta  ou indiretamente com as situações nas quais teve a crise; ansiedade basal; ansiedade de antecipação; agorafobia; auto depreciação e desmoralização; depressão; alcoolismo e/ ou abuso de drogas.

Ansiedade Basal 
Tensão muscular; dores provenientes da tensão;  dificuldade para relaxar, sendo que o paciente fica sempre em alerta esperando uma nova crise; intolerância a barulho; impaciência;  irritabilidade; agressividade verbal; insônia; fadiga no final do dia.

Ansiedade de antecipação da crise 
O paciente pode associar a crise aos locais onde as  teve, criando um condicionamento e, dessa forma  sente-se  ansioso  podendo até ter crises de pânico quando se confronta fisicamente com a situação.

Evitação fóbica 
Cada vez que o paciente tenta enfrentar uma situação fica mais ansioso, chegando ao ponto de ter a crise de pânico. Quanto mais se  evita uma situação, mais receio dela se vai adquirindo.

Hipocondria 
Uma preocupação excessiva com a saúde física, o  que se  nota  pelo fato da pessoa observar com mais freqüência suas  funções,  em particular a cardiovascular. O paciente começa a acreditar que deve haver algo muito sério com sua saúde física, algo que os médicos e exames não são capazes de detectar ou então estão lhe escondendo.

Fobias 
Associadas direta ou indiretamente com as situações nas quais teve as crises. Como a crise de pânico não escolhe lugar nem hora, a tendência é ir ampliando progressivamente as fobias ou a ter medo de praticamente tudo.

Auto depreciação e desmoralização 
As limitações impostas pelo estado fóbico-ansioso comumente levam a outras complicações, tais como: sentimentos de auto depreciação e desmoralização. Há queda de qualidade de vida do paciente e da família, além do sentimento de responsabilidade pela doença e por uma hipotética falta de força de vontade para superar o problema.

Depressão 
Pacientes com pânico e suas complicações podem desenvolver depressão, a qual é reativa as limitações fóbicas ansiosas impostas à vida do indivíduo. Essa depressão é secundária e ela desaparece quando o paciente melhora do pânico.

Gravidade do evitamento agorafóbico 
LEVE: Algum  evitamento,  mas estilo de vida relativamente normal, por exemplo, viaja desacompanhado  quando necessário, tal como a trabalho ou a compras.

MODERADO:   Resulta num estilo de vida restrito, por exemplo, a pessoa é capaz de deixar a casa sozinha, porém, somente consegue percorrer alguns quilômetros desacompanhada.

GRAVE: Por evitamento, resulta em estar  parcial  ou  completamente restrita à casa ou incapaz de sair desacompanhada.

Gravidade dos ataques de pânico 
LEVE: Durante o último mês, ou todos, ou não houve mais do que um ataque de pânico.

MODERADO: Durante o último mês os ataques  foram  intermediários entre ataques leves e graves.

GRAVE: Durante o último mês houveram pelo menos oito ataques de pânico.

As consequências da Síndrome do Pânico afetam três áreas 
 ECONÔMICA:  Os gastos excessivos com  médicos e exames são dispensáveis, exceto o ecocardiograma. Este exame revela que 30% dos pacientes  com pânico possuem uma alteração benigna chamada Prolapso da Válvula Mitral. Outro prejuízo econômico são as faltas e os afastamentos do trabalho  em  auxílio-doença e, às vezes internações em UTI ou clínicas e hospitais psiquiátricos sem nenhum benefício. Podem ocorrer recusas de promoções por falta de segurança e desmoralização, ou pedido de demissão e dispensa por causa da agorafobia.

SOCIAL: O paciente se restringe ao seu convívio  familiar, recusando os convites sociais e, por outro lado, os amigos vão se afastando em virtude das dificuldades de relacionamento que o  paciente vai adquirindo com a ocorrência sucessiva das crises.

FAMILIAR: Após várias consultas médicas e exames mostrando que o paciente não tem aparentemente nada, os familiares acham que tudo não passa de falta de força  de vontade ou talvez consideram responsabilidade do próprio paciente a superação do problema. Como às vezes o paciente só sai ou faz algo acompanhado  pode  tolher-se a liberdade da pessoa de quem se depende, trazendo aborrecimentos e gerando dificuldades de relacionamento conjugal ou com a família.

Formas de tratamento 
PSIQUIÁTRICO - Há necessidade de medicação para equilibrar os neurotransmissores.
Os quadros em que as pessoas apresentam a ansiedade como principal fator a caracterizar sua patologia são denominados Transtornos Ansiosos e os principais são:
- Transtorno do Pânico
- Fobia Simples
- Fobia Social
- Transtorno Obsessivo-compulsivo
- Estado de estresse pós traumático
- Ansiedade generalizada
- Distúrbio Misto depressivo - ansioso

Em nosso caso iremos dar destaque ao TRANSTORNO DE PÂNICO (TP): caracteriza-se pela presença de ataques de pânico recorrentes e inesperados, seguidos de pelo menos 1 mês de preocupação persistente acerca de ter outro ataque, preocupação com as possíveis implicações ou conseqüências dos ataques, ou uma alteração comportamental significativa relacionada aos ataques.
Devem ser excluídos outros transtornos psiquiátricos, uso de drogas, ou outra condição clínica.

TRATAMENTO CLÍNICO - Devido aos comprometimentos que o transtorno do pânico trás a seus portadores é muito importante que seja instituída uma conduta terapêutica adequada. O tratamento poderá, em muitos casos deverá, ser realizado através de medicamentos e de psicoterapia.
 
Os medicamentos mais úteis no tratamento do TP são os anti-depressivos. Geralmente, em doses baixas eles são capazes de bloquear os ataques de pânico, revertendo suas conseqüências e permitindo a retomada das atividades do paciente. Uma porcentagem significativa dos pacientes apresentam uma piora dos sintomas ansiosos, com piora dos ataques, ao iniciar o tratamento com anti-depressivos. Essa resposta ao início da medicação tende a desaparecer após alguns dias de uso do medicamento, não constituindo motivo para abandonar o tratamento farmacológico. Medidas como iniciar com doses baixas de antidepressivos reduzem o risco desse tipo de reação inicial.
 
Atualmente dispomos de diversos antidepressivos no mercado, que podem ser utilizados com sucesso no manejo dos pacientes com TP. São eles:
- Antidepressivos Tricíclicos (ADT): Clomipramina (Anafranil); Imipramina (Tofranil).
Apesar de drogas bastante eficazes no controle dos ataques de pânico, apresentam muitos efeitos colaterais (boca seca, sudorese, obstipação intestinal, retardo ejaculatório, e ganho de peso, entre os principais) que podem fazer o paciente abandonar o tratamento.

- Inibidores Seletivos da Recaptura da Seratonina (ISRS): Fluoxetina (Prozac, Eufor, Daforin, etc), Paroxetina (Aropax), Sertralina (Zoloft, Sercerim) entre outros.
Medicamentos mais novos que por atuarem especificamente sobre o neurotransmissor serotonina acabam tendo poucos efeitos colaterais sobre o organismo dos pacientes. Mesmo assim algumas pessoas tendem a reclamar de dor de cabeça (transitória), náuseas, dor de estômago e vômitos (transitório) e perda de libido.

- Inibidores da Mono Amino Oxidase (IMAO): Tranilcipromina (Parnate), Fenelzina, Moclobemida (Aurorix).
Alguns pacientes se beneficiam do uso de IMAOs, porém tirando a Moclobemida, o manejo terapêutico das outras drogas dessa família não é simples, para quem não esta acostumado, pois são necessarias várias restrições alimentares, não podendo, também associar essa droga com diversos medicamentos.

Normalmente o efeito benéfico dos antidepressivos se faz presente após uma a duas semanas de uso dessa medicação. Mesmo estando bem, tendo voltado ao estado normal, o paciente deve manter o uso da medicação por um período de aproximadamente um ano, para reduzir o risco dos ataques voltarem após a descontinuação da medicação.

Apesar de todo o medo que as pessoas têm em relação ao uso desse tipo de medicação (ficar dependente, mudar seu jeito de ser, fazer coisas sem saber, ficar "dopado"), seu uso é bastante seguro quando orientado por um psiquiatra experiente.
Além do uso de antidepressivos, é muito comum a utilização de ansiolíticos que são conhecidos como Benzodiazepínicos: Al;prazolan (Frontal), Clonazepan (Rivotril), Diazepam (Diempax, Valium, etc.).

Apesar de muito utilizados, os resultados obtidos tendem a ser parciais, pois conseguem combater alguns sintomas da crise que está acontecendo, mas não impedem o aparecimento de novas crises. Além disso tendem a deixar o paciente sonolento, sem contar o risco de levar o paciente à dependência. Não devem ser utilizados por longos períodos de tempo, pois o organismo tende a se acostumar e passa a exigir doses maiores para ter o mesmo efeito.
Ainda em relação a drogas que combatem sintomas dos ataques de pânico, podemos citar os beta-bloqueadores (inderal, Propranolol) que diminuem a taquicardia que em alguns pacientes parece ser o pior dos sintomas.
 De qualquer forma a melhor pessoa para indicar e acompanhar seu tratamento, do ponto  de vista medicamentoso, é o psiquiatra. Desaconselhamos a auto-medicação, pois qualquer medicamento tomado de forma incorreta pode ser mais prejudicial do que benéfico.

Uma outra razão importante para procurar um médico que conheça o problema é que ele poderá orientar quanto à investigação do seu problema procurando descartar outras condições clínicas que possam causar sintomas parecidos com um ataque de pânico. Entre as várias patologias que devem ser descartadas podemos citar:
- Doenças Endócrinas (hipertireoidismo, feocromocitoma, etc.)
- Doenças Cardiovasculares (Infarto do miocárdio, arritmias,PVM)
- Doenças respiratórias (asma brônquica, hipoxia, etc.)
- Doenças neurológicas (tumores cerebrais, epilepsia, cefaléias)
- Disfunções metabólicas (acidose, desidratação, etc.)
- Intoxicação por drogas (cocaína, anfetamina, cafeína, álcool,etc.)
- Síndrome tensão pré-mestrual

Muitas vezes não há necessidade de se realizar dezenas de exames laboratoriais bastando um bom histórico clínico para que o médico possa descartar certas doenças.
PSICOTERÁPICO - Focado no enfrentamento das fobias da técnica da terapia cognitiva comportamental, no qual limita o paciente em várias áreas. Depois um enfoque profundo na psicodinâmica independente da linha psicológica, elaborando as mudanças de  alguns comportamentos inadequados. O paciente precisa redimensionar alguns conteúdos da personalidade, tais como: perfeccionismo, controle das situações, poder, centro das atenções, workaholic, auto crítica exacerbada... No processo psicoterápico a pessoa precisa trabalhar as complicações da doença para que sinta mais segurança e equilíbrio no dia a dia.
ANSP – Associação Nacional da Síndrome do Pânico

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