Quando vige o amor nos
sentimentos, não há lugar para o ressentimento. Não obstante, face à
estrutura psicológica do ser humano, a afetividade espontânea sempre
irrompe intentando crescimento, de modo a administrar as paisagens que
constituem os objetivos existenciais. Não conseguindo atingir as metas,
porque se depara com a agressividade inerente ao processo de
desenvolvimento intelectomoral que ainda não se pôde instalar, sente-se
combatida e impelida ao recuo. Tal ocorrência, nos indivíduos menos
equipados de valores éticos, gera mal-estar e choques comportamentais
que se podem transformar em transtornos aflitivos.
Quando isso sucede, o ser maltratado refugia-se na mágoa, ancorando-se no desejo de desforço ou de vingança.
A injustiça de qualquer natureza é
sempre uma agressão à ordem natural que deve viger em toda a parte,
especialmente no homem que, por instinto, defende-se antes de ser
agredido, arma-se temendo ser assaltado, fica à espreita em atitude
defensiva...
Tudo quanto lhe constitui ameaça real
ou imaginária torna-se-lhe temerário e, por mecanismo de defesa,
experimenta as reações fisiológicas específicas que decorrem das
expectativas psicológicas.
A raiva, sob esse aspecto, é uma
reação que resulta da descarga de adrenalina na corrente sangüínea,
quando se está sob tensão, medo, ansiedade ou conflito defensivo.
O medo que, às vezes, a inspira,
impulsiona à agressão, em cujo momento assume o comando das atitudes,
assenhoreando-se da mente e da emoção.
A criatura humana, portanto, convive
com esses estados emocionais que se alternam de acordo com as
ocorrências, e que se podem transformar em transtornos desesperadores
tais o ódio, o pânico, a mágoa enfermiça.
A mágoa ou ressentimento, segundo os
estudos da Dra. Robin Kasarjian, instala-se nos sentimentos em razão do
Self encontrar-se envolto por sub-personalidades, que são as qualidades
morais inferiores, aquelas herdadas das experiências primárias do
processo evolutivo, tais a inveja, o ciúme, a malquerença, a
perversidade, a insatisfação, o medo, a raiva, a ira, o ódio, etc.
Quando alguém emite uma onda inferior -
sub-personalidade - a mesma sincroniza com uma faixa equivalente que se
encontra naquele contra quem é direcionada a vibração, estabelecendo-se
um contato infeliz, que provoca idêntica reação.
A partir daí estabelece-se a luta com
enfrentamentos contínuos, que resultam em danos para ambos os
litigantes, que passam a experimentar debilidade nas suas resistências
da saúde física, emocional, psíquica, econômica, social... Naturalmente,
porque a alteração do comportamento se reflete na sua existência
humana.
Sentindo-se vilipendiado, ofendido,
injustiçado, o outro, que se supõe vítima, acumula o morbo do
ressentimento e cultiva-o, como recurso justo para descarregar o
sofrimento que lhe está sendo imposto.
Essa atitude pode ser comparada à
condução de "uma brasa para ser atirada no adversário que, apesar disso,
enquanto não é lançada queima a mão daquele que a carrega".
O ressentimento, por isso mesmo, é
desequilíbrio da emoção, que passa a atitude infeliz, profundamente
infantil, qual a de querer vingar-se, embora sofrendo os danos demorados
que mantém esse estado até quando surja a oportunidade.
O amor, porém, proporciona a
transformação das sub-personalidades em super-personalidades, o que
impede a sintonia com os petardos inferiores que lhes sejam disparados.
Em nossa forma de examinar a questão
do ressentimento e da estrutura psicológica em torno do Self,
acreditamos que, em se traçando uma horizontal, e partindo-se do fulcro
em torno de um semicírculo para baixo, teríamos as sub-personalidades,
e, naquele que está acima da linha reta, defrontamos as
super-personalidades, mesmo que, nas pessoas violentas e mais
instintivas, em forma embrionária.
Toda vez que é gerada uma situação de
antagonismo entre os indivíduos, as sub-personalidades se enfrentam,
distendendo ondas de violência que encontram guarida no campo
equivalente da pessoa objetivada.
Não houvesse esse registro negativo e a agressão se perderia, por faltar sintonia vibratória que facultasse a captação psíquica.
O ressentimento, portanto, é efeito
também da onda perturbadora que se fixa nos painéis da emotividade,
ampliando o campo da sub-personalidade semelhante que se transforma em
gerador de toxinas que terminam por perturbar e enfermar quem o acolhe.
Sob o direcionamento do amor, a
sub-personalidade tende a adquirir valores que a irão transformar em
sentimentos elevados - super-personalidades - anulando, lentamente, a
sombra, o lado mau do indivíduo, criando campo para o perdão.
É provável que, na primeira fase, o
perdão não seja exatamente o olvidar da ofensa, apagando da memória a
ocorrência desagradável e malfazeja. Isso virá com o tempo, na medida
que novas conquistas éticas forem sendo armazenadas no inconsciente,
sobrepondo-se às mazelas dominantes, por fim, anulando-lhes as vibrações
deletérias que são disparadas contra o adversário, ao tempo em que
desintegram as resistências daquele que as emite.
Não revidar o mal pelo mal é forma de
amar, concedendo o direito de ser enfermo àquele que se transforma em
agressor, que se compraz em afligir e perturbar.
Nessa condição - estágio primário do
processo de desenvolvimento do pensamento e da emoção - é natural que o
outro pense e aja de maneira equivocada.
O amor-perdão é um ato de gentileza
que a pessoa se dispensa, não se permitindo entorpecer pelos vapores
angustiantes do desequilíbrio ou desarticular-se emocionalmente sob a
ação dos tóxicos do ódio ressentido.
O homem maduro psicologicamente é
saudável, por isso, ama-se e perdoa-se quando se surpreende em erro,
pois que percebe não ser especial ou alguém irretorquível.
Compreendendo que o trabalho de
elevação se dá mediante as experiências de erros e de acertos,
proporciona-se tolerância, nunca porém sendo complacente com esses
equívocos, a ponto de os não querer corrigir.
É atitude de sabedoria perdoar-se e
perdoar, porquanto a conquista dos valores éticos é conseqüência natural
do equilíbrio emocional, patamar de segurança para a aquisição da
plenitude.
O amor é força irradiante que vence as distonias da violência vigente no primarismo humano, gerador das sub-personalidades.
Surge como expressão de simpatia que
toma corpo na emoção, distendendo ondas de felicidade que envolvem o ser
psicológico e se torna força dominadora a conduzir os objetivos
essenciais à vida digna.
Fonte proporcionadora do perdão,
confunde-se com esse, porque as fronteiras aparentes não existem em
realidade, desde que um somente tem vigência quando o outro se pode
expressar.
Amor é saúde que se expande,
tornando-se vitalidade que sustenta os ideais, fomenta o progresso e
desenvolve os valores elevados que devem caracterizar a criatura humana.
Ínsito em todos os seres, é a luz da alma, momentaneamente em sombra, aguardando oportunidade de esplender e expandir-se.
O amor completa o ser, auxiliando-o na auto-superação de problemas que perdem o significado ante a sua grandeza.
Enquanto viger nos sentimentos, não
haverá lugar para os resíduos enfermiços das sub-personalidades, que se
transformarão em claridade psicológica, avançando para os níveis
superiores do sentimento, quando a auto-realização conseguirá perdoar a
tudo e a todos, forma única de viver em plenitude.
Joanna de Ângelis
Livro: Amor, Imbatível Amor
Médium: Divaldo P. Franco
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