Aborto – I Filho que não nasceu
Fui trazido ao teu colo e sussurro, baixinho:
- “Mãe, eu serei na carne o sonho de teu sonho!...”
Depois, em prece ardente, em ti meus olhos ponho,
Pássaro fatigado ante a úsnea do ninho.
Fui trazido ao teu colo e sussurro, baixinho:
- “Mãe, eu serei na carne o sonho de teu sonho!...”
Depois, em prece ardente, em ti meus olhos ponho,
Pássaro fatigado ante a úsnea do ninho.
Abraço-te. És comigo a esperança e o caminho...
Em seguida – oh! irrisão! -, eis que, num caos medonho,
Expulsas-me a veneno, e, bruto, me empeçonho,
Serpe oculta a ferir-te em silêncio escarninho.
Em seguida – oh! irrisão! -, eis que, num caos medonho,
Expulsas-me a veneno, e, bruto, me empeçonho,
Serpe oculta a ferir-te em silêncio escarninho.
Já me dispunha a dar golpe extremo, quando
Surge alguém que me obriga a deixar-te dançando
Em formoso salão onde o prazer fulgura.
Surge alguém que me obriga a deixar-te dançando
Em formoso salão onde o prazer fulgura.
Passa o tempo. Hoje volto... É o amor que em mim arde.
Mas encontro-te, oh! Mãe, a gemer, triste e tarde,
Sombra que foi mulher, enjaulada à loucura...
Mas encontro-te, oh! Mãe, a gemer, triste e tarde,
Sombra que foi mulher, enjaulada à loucura...
José Guedes
(Do livrete “Antologia dos Imortais”, Poetas Diversos, ed. FEB)
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